Durante a semana de aniversário da morte de Michael Jackson, quando fãs se reuniam em Los Angeles para lembrar seu ídolo, o Westlake Recording Studio ofereceu visitas guiadas em seus dois prédios onde os icônicos álbuns Off the Wall, Thriller e Bad foram gravados. Esse ano, em 25 de junho de 2015, o estúdio receberá os fãs mais uma vez em suas históricas salas de gravação. Para aqueles que não podem estar lá e têm curiosidade para saber como é, aqui vai uma estória sobre uma das primeiras visitas ao estúdio organizada no verão de 2012.
Em 2012, no terceiro aniversário de falecimento do Michael, o Westlake Recording Studio abriu suas portas ao público pela primeiríssima vez. O tour de 3 horas que incluía visualização de dois prédios dos estúdios em Los Angeles foi um pouco caro, mas foi uma daquelas coisas que, como um fã, você simplesmente não pode perder. Por um bom tempo eu tive curiosidade de dar uma olhadinha nesses prédios aparentemente comuns – porque foi nesse lugar em que história foi feita. No Westlake, Michael gravou seus três álbuns mais icônicos: Off the Wall, Thriller e Bad. Então, em 26 de junho, às 7:30 da manhã, eu me encontrava no estacionamento dos fundos do Westlake Studio D, no Santa Monica Boulevard.
A parte dos fundos do estúdio parece completamente comum, mas no momento em que a vi, eu imaginei de forma vívida Michael estacionando desajeitadamente ali, em seu Chevy Blazer, batendo nos carros próximos.
Primeiramente, não vi ninguém mais e pensei que seria a única visitante. Mas então notei uma minivan que já estava esperando no estacionamento, e que acabou por estar quase lotada. Com o grupo completo de 13 ou 14 pessoas, decolamos em direção ao primeiro e histórico prédio do Westlake Studios, no Beverly boulevard.
O grupo reunido na van consistia quase principalmente de fãs de meia idade, alguns que seguiam Michael desde seus primeiros anos no Jackson 5. Alguns fãs lembravam de terem visto o programa de Ed Sullivan na TV; outros, de terem ido aos shows da Triumph e da Victory Tours. Uma moça afirmou que tinha ido a shows de cada turnê que Michael fizera na América do Norte.
O tour tinha dois guias: Roy, um funcionário do Westlake Studio, e Corry, um fã. Cory é fã do Michael desde a infância, um colecionador e ativista: contribuiu com o livro For the Record, escrito por Halsted e Cadman, e é um dos administradores da página Michael Jackson Archives no Facebook. Um cara animado e entusiástico, ele ficava perguntando a cada um de nós se tínhamos visto Michael de perto, quais músicas eram as nossas favoitas, etc. Durante o passeio todos nós discutimos sobre livros, vídeos do YouTube e outras coisas sobre o Michael. Todo mundo ficava dizendo o quão maravilhoso o Michael era e quão eternas são cada uma de suas músicas e apresentações.
Finalmente, estávamos chegando ao Estúdio A, uma construção térrea pintada de branco e marrom. Esse é o próprio estúdio onde Michael Jackson gravou os dois álbuns que mudaram a música americana: Off the Wall e Thriller. De vista, você nunca adivinharia.
Na entrada, a equipe do Westlake Studio nos receberam calorosamente e prometeram uma experiência inesquecível. Não é permitido gravar do lado de dentro; de qualquer maneira, no0s deixaram tirar fotos. Infelizmente, é bastante escuro no estúdio (desnudar sua alma numa canção é um processo bem íntimo), muitas das minhas fotos ficaram embaçadas. Mas consegui capturas as coisas mais importantes.
Na sala perto da porta há uma exposição de discos de platina, alguns do próprio Michael.
Além disso – da primeira porta e por todo o estúdio – as paredes estão cobertas de lembranças de Michael. Fotos suas, desenhos, letras escritas à mão… Em todo lugar pra onde olha, você vê Michael, Michael, Michael… Os corredores do estúdio são estreitos e é difícil capturar uma visão ampla. Embaixo há alguns closes que acabaram saindo numa qualidade decente, pra dar uma ideia.
A composição “The Wall” é um presente de Quincy Jones.
Desenhos que Michael fez no estúdio (essas são réplicas):
No salão principal, nos mostraram um rápido vídeo sobre o trabalho de Michael com Quincy. Nada de novo, uma montagem das filmagens de OTW e Thriller.
O estúdio interior é estiloso e aconchegante.
Entrando na sala de controle. Essa é a sala onde o diretor e os engenheiros musicais gravam e mixam as faixas.
Aqui, fomos recepcionados pelo amigável engenheiro Ben. Ele estava nos mostrando como trabalhar com um console de mixagem.
A sala de controle é pequena, e como vocês podem ver na foto, as paredes não são retangulares. Esse design especial é para conseguir uma acústica melhor. Alto-falantes ficam presos nas paredes em todo o perímetro da sala. Você pode até notar alguns alto-falantes no teto – eles foram postos lá especificamente por Quincy, que gostava de ouvir o mix recostado numa cadeira, olhando pra cima.
Em frente a mesa de mixagem, atrás do vidro, é a cabine de gravação do cantor.
A acústica nesse espaço é nada menos que espetacular! A primeira coisa que eles fizeram quando entramos nessa salinha foi tocar Thriller no volume máximo. Por essa sala ser tão pequena e à prova de som, você sente como se a música estivesse sendo tocada dentro de você. Lá dentro, naquele momento, eu pude entender por que Michael amava sua música extremamente alta e como um bom mix podia fazê-lo dançar. Não sou música ou dançarina, mas até eu não consegui ficar parada lá. Pro Michael, que dançava até com uma máquina de lavar, essa era a única maneira natural de responder à música genuinamente boa. Senti como ele ouvia sua própria música. Não tem nada a ver com como soa em fones de ouvido em iPods. Quando Human Nature começou, me senti sendo transportada a outro universo.
Então, Ben mudou para Black or White à capela, e eu esqueci de respirar.
Veja, acontece que eles têm algumas das músicas do Michael em multitracks. Um multitrack é um conjunto de peças vocais e instrumentais que podem ser definidas pela mesa de mixagem e usadas pra fazer diferentes combinações. Isso era o que o Ben fazia – ele queria nos mostrar como mixar uma música, então sintonizava todas as partes exceto os vocais e, em seguida, começava a adicionar instrumentos, um por um, e o rap e os backgrounds. Os vocais à capela soavam simplesmente fantásticos, e eu ficaria grata só de escutá-los sozinha por um minutinho. Mas a decisão não era minha. Ao contrário, Ben nos deixou mexer na mesa, virar e apertar botões. Parece meio aterrorizante, mas dá pra você dominar facilmente – tudo o que precisa fazer é mover aqueles controles deslizantes nos botões. Eles ainda têm notas com dicas sobre as partes que correspondem a cada botão.
É assim que o multitrack de Black or White é:
Saí dessa sala admirada com essas pessoas amigáveis que riam tão casualmente enquanto possuíam tesouros incomensuráveis.
Então, fomos para a sala adjacente à cabine de voz.
Essa cadeira, eles disseram, tem ficado aqui praticamente desde os tempos das gravações do Michael. E eles te deixam sentar, tirar fotos em frente ao microfone e até cantar com as músicas nos fones. Eu não costumo posar pra fotos, mas aqui eu não pude resistir, porque… Como resistir?!?! Ele provavelmente cantou She’s Out of my Life nessa cadeira!
Esse é o próprio piano no qual MJ e Paul McCartney tocaram The Girl is Mine. Nesse ponto eu já estava pronta pra abaixar e tocar o chão que essas pessoas tinham pisado.
Mas espera, tem mais. Ta vendo esse pedacinho de tapete perto do sofá? Não, não é nenhuma ideia de design distorcido de alguém, esse é o mesmo tapete no qual Michael e Quincy andaram quando trabalharam em Thriller. O tapete está desgastado, como você vê, e já tá na hora de ser jogado fora. Mas não se joga fora um artefato histórico como esse, não é? Então eles cortaram bem cuidadosamente um pedaço e mantêm como exibição.
Essa foi a parte em que eu esqueci todas as boas maneiras e engatinhei pra sentir a coisa com as minhas próprias mãos.
Antes de deixar o Estúdio A, perto desse poster, Cory perguntou a todo mundo do grupo qual álbum do Michael nós levaríamos conosco para uma ilha deserta. Ele diz que a resposta mais popular é Invincible. Música perfeita pra uma ilha, não é?
Voltamos ao Estúdio C em Santa Monica. Passamos pelo prédio da CBS onde Michael deu uma entrevista à Diane Sawyer. Lembram deles caminhando pelo lado de fora do estúdio e dele falando sobre ser tímido? Aconteceu bem aqui.
Uma rápida parada nessa viela. Pra quê?, você deve estar perguntando. Aparentemente, aqui, debaixo do banner, há uma grande atração histórica relativa ao MJ. Adivinha!
Essa parede comum é a parede da capa de Off the Wall!!! O dono da propriedade, que aparentemente é alheio à cultura, pintou esse patrimônio histórico de um cinza feio.
Passamos pelo prédio original da Motown Records em Los Angeles. Aqui foi onde o Jackson 5 gravou a maioria de suas canções. O prédio ainda pertence à Motown, mas os artistas já não trabalham mais aqui.
Em frente a rua do prédio da Motown há um parquinho. Lembra daquela parte de Moonwalk na qual Michael lembrava como ele costumava olhar para as crianças brincando num parque na frente do estúdio e desejava se juntar a elas quando tinha que trabalhar? Esse era o parquinho do qual ele estava falando.
Chegamos ao Westlake D. Nesse estúdio, MJ e Quincy trabalharam principalmente em Bad. Esse prédio foi construído um pouco antes de eles se mudarem pra trabalhar na gravação, e foi projetado com Michael e Quincy em mente. Eles eram os principais inquilinos do estúdio, então o layout, a mobília e os equipamentos foram escolhidos para atender às necessidades dos dois. E com isso, o Westlake D definiu um padrão na indústria. Depois que ele foi construído, outros estúdios de gravação usaram o mesmo projeto.
Discos do Michael com autógrafos do Quincy nos recepcionaram na entrada.
Paredes cobertas de fotos do Michael de novo… Alguém perguntou ceticamente quando essas fotos apareceram, sugerindo que talvez foram trazidas apenas para agradar os fãs e montar a tendência do amor póstumo por Michael Jackson. “Ah, não, a maioria dessas fotos estão aqui por anos…”, respondeu Roy, lembrando quais delas eram as primeiras. “Claro que eles têm. Todas essas salas existem por causa do Michael”. Michael é a divindade desse lugar. A maneira que as pessoas apreciam a memória dele… É até difícil de descrever.
Westlake D é um prédio de dois andares. No segundo andar, há um salão privado que costumava ser ocupado pelo Michael. Russ Ragsdale, um engenheiro de gravação que trabalhou com ele durante as sessões de Bad, relembrou em 2009: “No Westlake, Michael tinha sua própria salinha privada no andar de cima com uma janela que tinha vista para a sala de monitoramento. Se precisava ficar longe durante os tempos em que não era realmente necessário, ia muitas vezes a essa sala, onde enchia de lixo de milho de pipoca em todo o canto, ele era um pouco bagunceiro, já que era acostumado a ter alguém cuidando dele, e esse alguém geralmente era eu!!!”.
Então, vimos essa sala.
Muito modesta, sem luxo, sem esplendor.
A equipe do estúdio chama essa sala de “sala do Bubbles” porque quando Michael estava gravando, eles costumavam trancar o Bubbles ali e ele ficava pulando por lá e ficando um tanto louco. Talvez a pipoca tenha sido obra dele…
A janela, de fato, tem vista para a sala de gravação no térreo. O palco foi construído especialmente pro Michael, pra que ele pudesse praticar alguns movimentos de dança entre as sessões.
Voltando ao primeiro andar, podemos ver a sala de Quincy e um banheiro com um box. Uma coisa absolutamente necessária no estúdio, já que os artistas e produtores trabalham durante toda a noite. Além disso, o box é útil por causa de sua ótima acústica. Michael usou seu som oco para gravar os aplausos de percussão para Man in the Mirror e outras canções de Bad. É maravilhoso poder ver e tocar nisso, e eles deixam você entrar, pisar no box e tirar fotos…
A sala de controle do Westlake D. Parece bastante igual à do estúdio A, apenas um pouco maior.
Nesse momento Ben, que venho até nós, decidiu jogar o mesmo jogo do multitrack com Bad. Quando ele começou o playback da versão à capela no volume máximo, senti lágrimas nos meus olhos. É simplesmente fantástico – você consegue ouvir tudo: os estalos dos dedos de Michael, suas pisadas, e até mesmo a “corrente” da música que o microfone pega dos headphones dele. E então você adiciona instrumentos à música, um por um: as guitarras, as batidas, as palmas do box. Há tantas coisinhas na música que você de repente começa a escutar!
A visita terminou na grande sala com o palco e o telão, na qual fomos convidados a assistir a uma montagem de clipes do Michael. A essa altura, as emoções mal podiam ser contidas.
O vídeo terminava com You Are Not Alone. A tela foi subindo, revelando um espaço semelhante ao vídeo de This Is It de Spike Lee. Todos nós fomos às lágrimas.
Eles tinham até uma caixa de lenços de papel convenientemente preparados – esse efeito emocional foi cuidadosamente orquestrado!
No fundo do palco, atrás da cortina, há um espelho, é claro… Um palco de um dançarino.
Perguntei ao Roy o que acontece com o estúdio hoje em dia e quais os planos para o futuro. Ele disse que os dois prédios estão funcionando. Os estúdios têm equipamentos de ponta, e o tempo do estúdio é bastante caro. Essa é uma das razões do preço tão alto da visita – obviamente, eles não podem alugar o estúdio para músicos durante o tempo da excursão. Os estúdios Westlakes têm recebido muitos artistas populares, de Rihanna e Ne-Yo a Justin Bieber. Roy diz que quando os artistas vêm trabalhar aqui, a primeira coisa que todos pedem pra ver é a sala do Michael. O fato de ele ter trabalhado lá em algumas de suas melhores gravações é inspirador.
Essa é a primeira vez que os estúdios abrem suas portas para o público em geral. Antes eles somente conduziam pouquíssimas visitas para fã clubes. Posso dizer honestamente que o tour cumpriu todas as promessas e expectativas. Para mim, foi um dos melhores momentos que tive experienciando Michael Jackson, o artista. Ainda verão o quão regulares e populares essas visitas serão no futuro, mas eu saí de lá com a sensação de que, aberto ao público ou não, esse lugar será sempre um memorial dele.
Eu sei que muitas pessoas não poderão experimentar essa atmosfera, então fiz esse texto na esperança de compartilhar com vocês uma parte do que senti lá. Mas se tiverem uma chance de visitar o estúdio em futuros tours, visitem! Vocês não vão se arrepender.
Texto de morinen, 2012.
Post original: http://en.michaeljackson.ru/westlake-studio-tour/